Por que as pessoas cuidam de sua saúde?

Tempo de leitura: 4 min

Escrito por Edimilson
em 22 de junho de 2024

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Sangu Delle descreve como enfrentou um ano difícil com estresse e ansiedade, enfrentando o estigma da saúde mental dentro da cultura africana. Ele destaca a necessidade de tratar a saúde mental com a mesma seriedade que a saúde física e critica a falta de investimento e recursos para saúde mental na África. Delle enfatiza que o estigma leva ao isolamento e ao sofrimento em silêncio e encoraja a vulnerabilidade e a busca de ajuda. Ele chama a atenção para a importância de acabar com o estigma e reconhecer que problemas de saúde mental não diminuem a força ou virilidade de ninguém.

Por que as pessoas cuidam de sua saúde?

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Não há vergonha em cuidar da saúde mental Sangu Delle

O ano passado… foi um inferno. Foi a primeira vez que comi “Arroz jollof ” nigeriano. Na verdade, falando sério, eu passei por muitas turbulências pessoais. Enfrentando um estresse enorme, tive um ataque de ansiedade. Em alguns dias, eu não conseguia trabalhar.

Em outros, eu só queria deitar-se na cama e chorar. Meu médico me perguntou se eu gostaria de falar com um profissional de saúde mental sobre meu estresse e ansiedade. Saúde mental? Eu me fechei e violentamente sacudi a cabeça em protesto.

Eu senti uma vergonha profunda. Senti o peso do estigma. Tenho uma família amorosa e apoiadora e amigos incrivelmente leais, mas ainda assim não conseguia considerar a ideia de falar com qualquer pessoa sobre minha dor. Eu me senti sufocado pela arquitetura rígida de nossa masculinidade africana.

“As pessoas têm problemas reais, Sangu. Controle-se!” A primeira vez em que ouvi o termo “saúde mental”, eu era aluno interno, recém-chegado de Gana, na Peddie School em New Jersey. Eu tinha acabado de passar pela experiência brutal de perder muitos entes queridos em um único mês.

A enfermeira da escola, que Deus a abençoe, preocupada com o que eu tinha passado, me perguntou sobre minha saúde mental. “Ela é louca?”, eu pensei. “Ela sabe que sou um homem africano?” Como Okonkwo em “O Mundo se despedaça”, nós, homens africanos, não processamos nem expressamos nossas emoções.

Nós lidamos com nossos problemas. (Liguei para meu irmão e ri sobre os “oyibo”, pessoas brancas, e suas estranhas doenças, depressão, e outras “coisas estranhas”. Tendo crescido na África Ocidental, quando as pessoas falavam em “doente mental”, o que me vinha à mente era um homem louco com cabelos sujos e desgrenhados, andando seminu pelas ruas.

Todos nós conhecemos esse homem. Nossos pais nos alertaram sobre ele. “Mãe, mãe, por que ele é louco?” “Drogas! Se você sequer olhar para as drogas, vai acabar como ele.” Pegue uma pneumonia, e sua mãe vai correr com você para o hospital mais próximo para tratamento médico.

Mas ouse falar em depressão, e o pastor local irá expulsar seus demônios e culpar as bruxas da sua aldeia. Conforme a Organização Mundial da Saúde, saúde mental diz respeito a conseguir lidar com os fatores de estresse normais da vida; trabalhar produtiva e lucrativamente; e contribuir para sua comunidade.

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A saúde mental inclui nosso bem-estar emocional, psicológico e social. Mundialmente, 75% dos casos de doença mental se encontram em países de baixa renda. Ainda assim, a maioria dos governos africanos investe menos de 1% do orçamento da saúde em saúde mental.

E, ainda pior, temos escassez de psiquiatras na África. Na Nigéria, por exemplo, estima-se haver 200 psiquiatras, em um país com quase 200 milhões de habitantes. Em toda a África, 90% das pessoas não têm acesso a tratamento. Como resultado disso, sofremos na solidão, silenciados pelo estigma.

Nós, africanos, costumamos reagir à saúde mental com distância, ignorância, culpa, medo e raiva. Em um estudo conduzido por Arboleda-Flórez, que pergunta diretamente:
“Qual a causa da doença mental?”, 34% dos nigerianos que responderam citaram o uso indevido de drogas; 19% citaram a ira e a vontade divina, e 12%, feitiçaria e possessão espiritual. Mas poucos citaram outras causas conhecidas da doença mental, como genética, situação socioeconômica, guerras, conflitos ou a perda de entes queridos.

O estigma contra a doença mental costuma resultar no ostracismo e demonização dos portadores. O fotojornalista Robin Hammond documentou alguns desses abusos… na Uganda, na Somália, e aqui na Nigéria.

Para mim, o estigma é pessoal. Em 2009, recebi uma ligação frenética no meio da noite. Meu melhor amigo do mundo, um jovem brilhante, filósofo, charmoso, descolado, foi diagnosticado com esquizofrenia. Presenciei alguns amigos, com os quais crescemos, se afastarem. Eu ouvi os risos sarcásticos.

Eu ouvi os sussurros. “Você soube que ele ficou louco?” (Inglês kru) “Ele pirou!” Comentários depreciativos e humilhantes sobre sua condição, palavras que nunca diríamos sobre alguém com câncer ou com malária. De alguma forma, quando se trata de doença mental, nossa ignorância acaba com toda a empatia.

Fiquei ao seu lado enquanto a comunidade dele o isolou, mas nosso amor nunca fraquejou. Implicitamente, me tornei um apaixonado por saúde mental. Inspirado por seu sofrimento, ajudei a fundar o grupo de interesse em saúde mental com ex-alunos da minha faculdade.

E enquanto fui tutor na pós-graduação, apoiei muitos estudantes com seus desafios de saúde mental. Vi estudantes africanos sofrendo, incapazes de conversar com alguém. Mesmo com esse conhecimento e sabendo das histórias deles, eu, por minha vez, relutei e não consegui falar com ninguém quando enfrentei minha própria ansiedade, tão grande é o medo de sermos o homem louco.

Todos nós, mas os africanos em especial, precisamos perceber que nossas batalhas mentais não afetam nossa virilidade, e nosso trauma não macula nossa força. Precisamos ver que a saúde mental é tão importante quanto a física.  É preciso parar de sofrer em silêncio.

Precisamos parar de estigmatizar a doença e traumatizar os afligidos. Fale com seus amigos, com seus entes queridos e principalmente com profissionais da saúde. Seja vulnerável. Faça isso com a certeza de que você não está sozinho. Fale, se estiver sofrendo.

Ser honesto sobre como nos sentimos não nos torna fracos; nos torna humanos. Está na hora de acabar com o estigma associado à doença mental. Então, da próxima vez em que ouvir o termo “doente mental”, não pense apenas no homem louco. Pense em mim. Obrigado. Dr. Sangu Delle é empresário, investidor e autor.

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui

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